Amélia Rodrigues


Felicidade

Os meus lábios estão trêmulos, O meu corpo os acompanha na mesma emoção... Sinto um calafrio de impotência A percorrer a minha espinha Que faz o meu estômago rejeitar o alimento Os meus olhos se fecharem E duas grossas lágrimas Teimarem em escorrer no meu rosto. Reajo ao frêmito que de mim se apodera, Fustigando a minha mente com doces lembranças... Agarro-me, convulsa, às imagens da esperança Que de mim se aproxima... Sou como um náufrago Em busca da sua tábua de salvação! E, dentre as brumas do desespero, Diviso ao longe, um sorriso... Arrasto-me em sua direção, alquebrada... Consigo ver um arco-íris que chora E as suas lágrimas reluzem como diamantes. Aproximo-me e constato a sua riqueza... Mas não me enchem os olhos Os pingentes que refletem a luz do sol... Continuo o meu caminho, Tropeçando em rubis, brilhantes e safiras Que acenam para mim, Como se pedindo que os siga... Permaneço no meu caminho! Atravesso o fascinante mundo das ilusões E não o vejo... Descanso no nada E o pranto volta a anestesiar o meu sofrimento, Até que cansada do nada e carente de tudo Ergo os olhos e reconheço em Você O sorriso que busquei dias e noites Ininterruptamente... Aceito a mão que me oferece E percebo que estou de mãos dadas Com a felicidade.


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