Cirstina Areias


A Palavra
Para Carlos Drummond de Andrade

Os meus olhos devoram a palavra que tua boca pronunciou, O meu pensamento absorve o teu Emoção flui do teu corpo ao meu, Do meu tempo ao teu. Ler teu poema é realizar um ato de amor mágico, cósmico... Vens dos confins do Tempo Espírito reencarnado e errante E escarneces da minha agonia quando exibes, assim, à minha revelia, à exaustão, A expressão lapidar de minha particular tragédia... É teu espírito dentro de mim Usurpando e definindo-me com precisão de ourives, Travestindo o sentimento comum em fina literatura... Tu, eu a bruxa e essa dança gêmea, incestuosa e louca. Vens dos confins do Tempo Espírito reencarnado e errante E acusas, com genialidade o sentimento que eu entalo na garganta. Pasmo, vexada, ouvindo que gargalhas do Além, Quando vês, dentro do meu cristalino choro, O desespero de que nos teríamos amado...


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