Antônio de Navarro


Charleston

O jazz zurze, risca losangos, gumes, planos, ângulos, sonoros motes arrancados de dentro da pandeiretas, cornetas, timballs,serrotes tocados por Hotentotes saltitantes que rasgam o espaço côncavo com os fortes botes dos sonoros motes volantes do jazz-band d'Ho-ten-to-tes... Andam no ar jogos malabares de fogos de Bengala num batuque d'Hotentotes... d'Ho-ten-to-tes sal-ti-tan-tes no redondel duma senzala. E ela surge, toda nua, sob a poalha luminosa e crua d'um foco d'arco voltaico, que, incendiando o mosaico de sua pele tatuada a cores, lhe dá o aspecto bizarro d'um bronze colorido, d'um manipanso Hotentote. O seu corpo, asa que desgarra, esmurra, esbarra, em movimentos ágeis, elétricos, com os sons do jazz pensamentos alados de Ferrabraz que esvoaçam, velozes, velozes no espaço. As pernas são apenas dois movimentos instáveis, trêmulos, nos espaços, em malabárico jogo. E os braços, duas antenas vibráteis, duas asas de fogo e cor numa pluma de labareda. Os olhos são duas puas, acerados gumes, agudos ângulos, orgias de fogos e lumes, facas de prestigitador sonâmbulo. Seu corpo, cansado e bambo — tomba sobre almofadas de Damasco, Raz, e penas de Trebisonda. E o jazz continua, já lassa a pele dos bombos, bambas as cordas dos banjos. Entretanto o jazz zurze, risca o espaço também já lasso e bambo.


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