António Afonso Bernardino

Mineiro

Calção feito de remendos, De borracha a alpercata, Casaco de saragoça E um capacete de lata, E lá abala o mineiro Para debaixo do chão. Na jaula cai água forte, Estremece o coração. Oito horas sem ver sol, Oito horas sem ver lua! Debaixo das rochas negras É que a vida continua. O almoço é uma açorda, Umas sopas e uns feijões, O minério vai prò estrangeiro, O pó fica nos pulmões. A mulher ficou em casa À espera de ele chegar. Às vezes cai uma pedra, Fica a família a chorar. E lá abala o mineiro Para debaixo do chão! Perdeu o seu companheiro, Nem conheceu o patrão. E lá abala o mineiro Para debaixo do chão! Já não respira mais pó, Foi pra dentro dum caixão.

(Aljustrel, 1995)

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