a carne e o sangue
se dissolvem compõem
as pedras o tempo
a reencarnação.
a carne e o sangue
se deformam compõem
a dor e o silêncio
a noite e o perjúrio.
a carne e o sangue
se depredam na noite
e compõem o dia
no íntimo tormento.
a carne oferece
seu transe tomado:
sacrifica o sangue
e se ergue no símbolo.
desse holocausto
o depósito o muro
das lágrimas de pedra
no olho incansável.
as pedras o símbolo
cremados e unos:
sou isso e vos dou
minha carne, meu sangue.
II
minha carne meu sangue
se dissolvem compõem
minhas pedras meu tempo
minha reencarnação.
minha carne meu sonho
se deformam compõem
minha dor meu silêncio
minha morte e perjúrio.
minha carne meu sangue
se depredam na noite
e compõem o meu dia
no íntimo tormento.
minha carne ofereço
meu transe tomado:
sacrifico meu sangue
e me ergo no símbolo.
sou esse holocausto
o depósito o muro
das lágrimas de pedra
no olho incansável.
minhas pedras meu símbolo
dissolvidos e unos:
sou isso e vos dou
minha carne meu sangue.
III
não dou minha alma
sou duro por fora:
perdi a raiz
de minha ternura.
os rumos tiraram
o propósito do início:
macia é a crosta
e áspero o íntimo.
não tenho a paixão
sou frio e terrível:
mas choro e destilo
a morte do mundo.
não dou o que posso
nem tenho o que tinha:
perdi o meu rumo
sou o homem que somos.
não sei essa alma
perdi a palavra:
domina-me a dor
do termo final.
meu quadro infinito
do homem finito:
não fiz nem desfiz
meu rumo é meu spleen
o karma infantil
do homem maduro
na porta da morte
guardando o silêncio
do seu holocausto. |