Álvaro Pacheco

Poema Didático
 
  
a eternidade é lúcida
a solidão é lúcida
a morte é lúcida

a eternidade é lúcida a solidão
a solidão é lúcida a eternidade
a morte é lúcida a solidão:

mas os fatores intemporais
(o amor
e o homem)
o pigmento que se acumula na carne
e transforma os seres temporais

os fatores perecíveis
a carne que se cobre de pigmentos
e se reconhece
e não permite identificar-nos

e aos outros inidentificáveis
o destino e a origem
que jamais se revelam
e são apenas atônitos
jeitos inconscientes
como acrescentar-se uma dose à própria dose
e declarar-se em transe e eterno
na suposição da lucidez.

É assim um conhecimento inútil
o do campo e de suas árvores e de suas pedras
e das crianças que brincam ao sol e dos homens que labutam na sombra
e dos que explicam o que não tem explicação:

a noite é transparente
e não existe o que chamamos dia,
toda lucidez é absurda
e toda regra é Ilógica
e imperioso é perder-se na loucura
da própria lucidez, e nas coisas absurdas
como você ser você, não amar o seu próximo, ser áspero e amargo

e esquecer.

 
                                                    Rio, 12/11/72
                                                                                   

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 Página editada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  01  de  Julho  de  1998