Álvaro Pacheco

Landscape
 
  
de águas em pedras ressurgem carneiros
e folhas podadas no pão da infância
o pai escondido, o menino chorando
as vagas presenças da morte por vir.

de chuva no céu, calçadas ardentes
fluidos perdidos, se eleva a lembrança
de longe das casas, dos ventos molhados
na face e nos cachos de longos cabelos.

martela-se um canto e o som é paisagem
um gosto na boca nascendo a memória:
sabia o futuro, sabia a lembrança
e sabia o passado, sabia a morte.

chorava o menino perdido na cama
choravam carneiros e folhas nas águas
o frade de pedra podava a parreira
e o fruto proibido de cores carnava.

e vinham manhãs e vinham crepúsculos
e vinha o rio por cima da ponte
( e vinha o menino olhando no escuro
o homem seguindo seu rumo de nada).

de cima da ponte crescia a cidade
no solo estrangeiro o homem-menino
olhava-se o rio de onde outras velas 
inflaram-se em busca de amplos espaços.

e desse país repleto de aldeias
trouxeram os nomes, veio o menino
vieram as águas e vieram as folhas 
ficaram memória e o espanto da morte.

 
                                                                            Rio,8/1/72
                                                                                   

[ ÍNDICE  DO LIVRO ][ ÍNDICE  DO AUTOR ]
 
 
 
 
 Página editada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  01  de  Julho  de  1998