Álvaro Pacheco
Aves
XXXIX
Não se pode esperar que as aves sonhem
tragam de longe um desejo de pedra e de asas
e flutuem incólumes no vento dos homens
perfeitas no espaço do vôo e das penas.
Os homens sonham e se atam ao nó da terra
um desejo de céu lhes destrói as entranhas
e suas asas são duras e inflexíveis
para conter o infinito o vôo o espaçopleno.
E assim sonham os homens e as aves voam
na trilha do eterno em longa estirada
nos tempos caminhos (do amor) e da terra
e no dorso do céu onde solto o desejo
(e o peso da carne) se ata à esperança
e as asas se nutrem de nunca morrer
e se prendem e se perdem e se colhem: viver.
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Frederikshaven, agosto 66
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