Álvaro Pacheco

Chamava-se Rosa
                                                   para Manoel Lobato 
                    
               
Chamava-se Rosa, mas nela não havia
nenhum vestígio de rosa
em suas perspectivas, como se fosse
de papel. Toda a vida foi puta
embora sendo Rosa e os seus olhos
como os de uma andorinha.

Tinha doze anos quando lhe viram
as partes. Tinha treze
quando as partiram - e aí
acabou-se a paz. Esperava achar, em sua inocência,
no meio do salão de cabaré
a salvação: entregou-se.

Quando se deitava
as rosas que lhe cobriam as vergonhas
não eram isso, nem um pedaço
do que sonhara de papel. - Essa história
lhe contaram recitando
um trecho edificante do livro: um salmo.

Ficou claro que as rosas do sonho dela
eram como o sonho do livro:
uma coisa apenas de papel crepom.

 
                                                                                   

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 Página editada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  05  de  Agosto  de  1998