Álvaro Pacheco

Os passos que andei até aqui
                       
                  
Os passos que andei até aqui
ninguém viu, foram no escuro,
os pés no ar, como um caixeiro-viajante,
sem saber as línguas, chiaroscuro
como num painel flamengo
ou nos mestres precursores da Renascença.

Os passos que andei foram
as Sete Chagas de Cristo, porém
menos dramáticos que os Passos da paixão.
Ninguém quis a minha liberdade
para onde se orientavam os passos, ninguém
aceita assim de graça uma tragédia.

Os passos no ar
são dados a mil quilômetros por hora
e dez mil pés de altura - como os dos anjos:
andei milhares desses
ao lado de gente bem estranha
mas de nada adiantou.

Os passos que vão para a liberdade
só acabam no sacrifício - os que andei até aqui
estão desaparecendo implacavelmente.

 
                                                                                   

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 Página editada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  05  de  Agosto  de  1998