Álvaro Pacheco

Minha vida acabou
                       
                  
"Minha vida acabou - disse o homem -
o horizonte para mim é vertical - e a aurora
eu não sei mais quem vai viver, a música
não compreendo, acho que tudo isto
é o fim da vida, não me embriago
mais como antes, em grandes quantidades."

"Dizem que nas montanhas há um vinho
feito do mel das flores, um vinho
que é doce e embriaga como uma mulher jovem.
Não tenho mais percepções para isso, acho
simplesmente que não sei mais para onde ir:
naufragaram nas tábuas os meus sonhos."

"Meus passos doem na areia quente e não
consigo chegar. Posso ir até à praia
e mais além - posso tentar: o horizonte
está no fim, minha vida é vertical
não tenho músicas, a aurora é o limite
do meu limite - me embriago em diminuições."

"A vida - disse - não se pode medir
como o vinho das montanhas, o mel
é simplesmente uma tapeação de Deus."

 
                                                                                   

[ ÍNDICE  DO LIVRO ][ ÍNDICE  DO AUTOR ]
 
 
 
 
 Página editada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  05  de  Agosto  de  1998