Álvaro Pacheco

Sabia que passara o tempo todo
                       
                  
Sabia que passara o tempo todo
buscando entender o povo humano
e seus arautos - o primeiro foi Cristo
e sua morte anterior inventando a salvação:
um corpo é muito pouco para tantas
almas sedentas - e a imensidão da esperança.

Os soldados também foram um arauto
como são as páginas do livro - e ambos
fazem seu jogo ao pé da Cruz.
Uma alma é muito pouco para um corpo inteiro
e um corpo só, não dá para a vida toda
porque são altas as pirâmides do medo.

Não sei de fato por que morreu Cristo
ou se ele alcançou a plenitude
desse negros que cantam e rezam
na pungência dos blues. Acho que a paz
é mais conforme à pequenez do corpo
e à rápida passagem por baixo da pirâmide.

Cristo de fato não foi rei
e a sua salvação
não é uma marca no estandarte da paz.

 
                                                                                   

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 Página editada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  05  de  Agosto  de  1998