Inventamos as coisas para fazer
porque na verdade
nada temos para fazer além das ficções
e das necessidades que inventamos:
a mulher do bar está esperando por mim
pensando em outra pessoa e na vitrine
da casa de modas - o homem da galeria
cria suas antigüidades, a parede branca
está pedindo cores e não há suficientes
objetos em tua vida. Precisamos inventar
as coisas desnecessárias para fazer
- e os nossos mínimos enganos cotidianos.
Inventamos a distância que colocamos
como um vôo de astronave entre nosso amor
e inventamos não fazer para passar o tempo
como se o tempo precisasse de passar:
todas essas coisas inventamos
para não ficar no caminho da morte
com os braços caídos e as mãos vazias
como espectros ou espantalhos
vigiando atentos um campo abandonado |