Álvaro Pacheco

Inventamos as coisas para fazer
                       
                  
Inventamos as coisas para fazer
porque na verdade
nada temos para fazer além das ficções
e das necessidades que inventamos:
a mulher do bar está esperando por mim
pensando em outra pessoa e na vitrine

da casa de modas - o homem da galeria
cria suas antigüidades, a parede branca
está pedindo cores e não há suficientes
objetos em tua vida. Precisamos inventar
as coisas desnecessárias para fazer
- e os nossos mínimos enganos cotidianos.

Inventamos a distância que colocamos
como um vôo de astronave entre nosso amor
e inventamos não fazer para passar o tempo
como se o tempo precisasse de passar:
todas essas coisas inventamos
para não ficar no caminho da morte

com os braços caídos e as mãos vazias
como espectros ou espantalhos
vigiando atentos um campo abandonado

 
                                                                                   

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 Página editada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  05  de  Agosto  de  1998