Álvaro Pacheco

Não nos beijamos
       
                  
Não nos beijamos
em nenhum momento, não houve
qualquer intimidade
que os censores pudessem cortar - nenhuma palavra
mais sensual ou qualquer emoção
proibida - não houve

qualquer coisa que perturbasse
um anjo - qualquer anjo, mesmo
os que se escondem
atrás dos pilares da igreja.
Não nos beijamos, jamais
falamos a mesma língua e as palavras

do código. Do outro lado do rio
a corrente é mais fraca - pode-se nadar
rio acima
sem nenhuma risco - não nos beijamos
nem sequer nos conhecemos
pelo lado mais fraco do corpo.

As correntes que nos invadiram
foram invisíveis - não nos beijamos, nem sequer
nos tocamos no rosto. Mesmo assim nos conhecemos.

 
Bali, julho de 1984                                                                                
                                                                                   

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 Página editada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  05  de  Agosto  de  1998