Não sou o outono
não tenho folhas caindo
e quero avisar que não me filtro na luz
que precede o inverno.
Quero avisar que não me sucedo
não morro nem renasço
e não me recrio do húmus e do tempo
cíclico.
Apenas me indago
e me embriago
numa atmosfera de sons e desejos
e as experiências que me negaram
rejeito-as como as folhas de outono que não tenho
e Não posso fertilizar.
Estou do outro lado
dos fenômenos meteorológicos
e dos ciclos vegetais da vida
e me enfado na composição de termos
que não reciclam a simbologia de minha memória
e os terríveis segredos de minhas palavras
usadas e pensadas.
Não sou o outono
não fui outras coisas
e me perco em memórias
e confusos acontecimentos sem registro.
Sou uma estação
em que me sinto apenas
um itinerário de coisas e pessoas
a maior parte indiferente.
Como as folhas que murcham
morrem, caem e fertilizam,
necessito que me dêem um sistema
para não ser visto
não ser palpável
e onde eu não perceba o outono
que precederá minha morte |