Álvaro Pacheco

Desejo
 
  
um pedaço de vida
flores em regatos correndo
coxas grossas
lábios polpudos
música zunindo
no espectro da chuva.

a posse do espasmo
de nossa agonia - 
a floração da loucura
a que temos direito
as pedras e os tenros brotos
que todos comeram.

(a minha parte
da festa completa
o teu sorriso
em meus vinte anos.

a minha parte
do corpo inteiro
que alguns partilham
e a euforia da vida.)

O nosso lugar
no café da manhã
e à luz da aurora
 - e se mandar
para os infinitos
o justo
para os injustos
e o sol
para a minha sombra.

O nosso pedaço
para não ir mais.

                     
Rio, abril, 82                                              
                                                                                   

[ ÍNDICE  DO LIVRO ][ ÍNDICE  DO AUTOR ]
 
 
 
 
 Página editada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  11  de  Agosto  de  1998