Arlene Holanda
Viezes
Vã filosofia
A vida passa. A passos largos. É sabido.
Tudo pode acabar a qualquer instante.
E nem por isso os sonhos são menos.
banal
Chuto o copo largado na sala.
nada que valha a pena...
coisa pequena, de sombra longa,
se desloca e toca o poste.
Paisagem
Sem horizonte ou ponto de fuga
nenhuma fuga é possível
só a paisagem é real.
A meia, o sapato, o chulé...
A escova de dentes,
o desodorante. Vazio.
A grade rua sem mar
morre suja e triste
na paia.
Bolinhas de pão
Pão amassado
matando o tempo
ou o tempo, teria me matado
e eu ainda não sei?
Três três passarás,
a infância passou.
E sem endereço,
os sonhos voltam sempre
a casa vazia.
Que fio ainda nos conduz
Chove
A mágoa lava o lixo
da noite insone
estrelas pálidas e impossíveis.
Mas... seguro sua mão
e ouço tambores
ritmos e rituais.
E no peito ainda batem
pasmem; dois corações...
Profissão
Porque o mundo
não precisa mais de poetas
e outros (poetas)
já disseram tudo
que devia ser dito
construirei pontes
farei analises físico-químicos
defenderei causas quase perdidas...
e escreverei essas palavras
que sem vento vela
não chegarão a nenhum destino.
Ninguém verá
Nem sonhos
nem palavras
tampouco poemas...
a vida é assim
para quem tem pressa
e não sabe perder o tempo.
Amanhã é certo,
mas apesar da luz,
não há janelas.
Necessidades básicas
As pessoas comem. Dormem.
E quando podem, até são felizes.
O malabarismo. O esquecimento
o caminho das veias
para o coração.
A identidade ( perdida? )
a fotocópia, o crime...
que não saiu no jornal.
Anti poema para fortaleza
Roça no ônibus
a perna poema
troco trocado miúdos.
Sem enxergar um centímetro a frente
A vida aos encontrões. Rebentando. Rejeitos.
Todos são poetas de palavras mau-ditas
Que nunca cicratizam.
Sob o sol,
essa cidade nos parece tão bela.
Esperando você ( te )
A forma gramaticalmente correta
Se perdeu boca a boca.
As palavras saem aos tropeções
doidas para morder
ou nadar sob o sol.
Cães famintos, fêmeas no cio
sem nenhuma correção ortográfica.
promessa
A arvore é a única promessa cumprida
de sombra e abrigo
talvez frutos e flores.
esperando
Horas
perdidas
roubadas
fugidas
ruminadas
percorridas.
Dando voltas sobre si mesmo
toc toc dos sapatos
esperando....
canteiro
Os tons vivos do canteiro
vermelho, amarelo, rosa...
não combina com cinza.
só a beleza parece ser feliz.
(in) cômodos
A saudade não cabe
nessa casa de tão grandes cômodos.
Nunca vivi aqui e a tenho,
do que poderia ter sido.
Uma manhã, um café, um carinho.
Um cavalo amarrado na árvore
trazendo noticias de um mundo
que não existiu para mim.
Um mundo aprisionado nos retratos
de moldura oval, quase sem sorrisos.
Em continência diante da vida
que passou, como também passará.
A tia bisavó parece frágil e triste
E seu retrato de moldura oval
precisa de urgentes reparos.
Sua lembrança, quase apagada
pela umidade do inverno
pelos que foram embora.
Mas eu estou aqui
trago um sorriso
meio condolente, alguns genes
sei quem é você. E por isso
não estais mais sozinha
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