Alberto de Serpa


Mar Morto

A noite caiu sobre o cais, sobre o mar, sobre mim... As ondas fracas, contra o molhe, são vozes calmas de afogados. O luar marca uma estrada clara e macia nas águas, mas os barcos que saem podem procurar mais noite, e com as suas luzes vão pôr mais estrelas além ... O vento foi para outros cais levar o medo, e as mulheres, que vêm dizer adeus e cantar, hoje sabem canções com mais esperança, canções mais fortes que a ressaca, canções sem pausas onde passe uma sombra da morte... Velhos marítimos — a terra é já a sua terra — olham o mar mais distante e têm maior saudade... Pára o rumor duns remos... Não vão mais às estrelas as canções com noite, amor e morte... Penso em todos os que foram e andam no mar, em todos os que ficam e andam no mar também ... E a luz do farol, lá longe, diz talvez...


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