Ser vaga
nuvem
ou pássaro liberto
ter espumas
asas
ou condensações
de infinito
possuir todas as praias
todos os espaços
poder voar bem alto
poder erguer os braços
poder erguer a voz
poder lançar um
grito
ou fosse apenas canto
prece
ou gargalhada
amar só por amor
só por amar
mais nada
ser nauta
vagabundo
menestrel
cigano
ou mesmo
- que não mais
-
um cavaleiro andante
poder viver um ano inteiro
em cada instante
e um século de
vida viver em cada ano
Não ser jamais
algoz de um sonho
ou de um anseio
fazer da vida um fim
e não somente um meio
de alcançar um
fim por todo meio incerto
não ser jamais
estéril e árido deserto
onde não
floresce
sequer
a flor selvagem
não ser árvore
seca despida de folhagem
por onde o vento passe
a murmurar baixinho
onde a ave pouse e possa
ter um ninho
de onde brote o fruto
rubro
sumarento
Não ser jamais
a pedra fria do convento
que mesmo ouvindo preces
permanece fria
não ser jamais
a rocha abrupta
sem harmonia
não ser jamais
o ódio
a inveja
o desengano
poder ouvir no mar uma
eterna sinfonia
e no soprar dos ventos
escutar um hino
ser um pouco da terra
para ser divino
e ser dos céus
um pouco para ser humano. |