À Memória de uma Ave
Quando morre uma criança,
Diz-se que o pálido anjinho
Voou como uma esperança.
Foi para o céu direitinho.
Mas nossa mente se cansa
A voar de ninho em ninho,
Interrogando a lembrança,
Quando morre um passarinho.
Só eu, se alguém diz que a vida
De uma avesinha querida
Se extingue como um clarão.
Ponho-me a rir, pois, divina!
Ouço cantar, em surdina,
Tu’alma em meu coração.
Jardim - 1893 |
A MINHA AVÓ
Minh’alma vai cantar, alma sagrada!
Raio de sol dos meus primeiros dias...
Gota de luz nas regiões sombrias
De minha vida triste e amargurada.
Minh’alma vai cantar, velhinha amada!
Rio onde correm minhas alegrias...
Anjo bendito que me refugias
Nas tuas asas contra a sina irada!
Minh’alma vai cantar... Transforma o seio
N’um cofre santo de carícias cheio,
Para este livro todo o meu tesouro... -
Eu quero vê-lo, em desejada calma,
No rico santuário de tu’alma...
- Hóstia guardada n’um cibório de ouro! -
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CANTIGA
Meu sonho dourado e leve,
Que buscas tu a voar?
Um ninho branco de neve
Onde me deixem cantar.
......................................
E em busca das nuvens belas
Lá vai meu sonho a cantar...
Meu sonho cor das estrelas,
Meu sonho cor do luar.
Pergunto ao sonho chorando,
Por que foges a cantar?
E ele responde, cantando:
Por que foges a cantar?
......................................
E em busca das nuvens belas
Foi-se meu sonho a cantar...
Meu sonho cor das estrelas,
Meu sonho cor do luar.
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TEUS ANOS
A Eugênia B. de Albuquerque Mello
Teus anos amanhã. Fui ver, contente,
(E como procurei por toda parte!)
Um mimo que te desse... e achei, somente,
Meu triste coração, mimo sem arte.
Mas... o que dirás tu quando, de leve,
Bem cedinho batendo à tua porta,
Vires meu coração frio, de neve,
Pobre flor sem perfume e quase morta?
Manda-o entrar... E diz, ó doce amada!
Que ele se aqueça d’esse olhar no brilho...
Vai de tão longe te pedir pousada:
Deixa-o ficar no berço de teu filho...
Angicos, - 2 de Maio de 1896.
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