Natal
às moças da Serra
É meia noite ... O sino alvissareiro,
Lá da igrejinha branca pendurado,
Como n’um sonho místico e fagueiro,
Vem relembrar o tempo do passado.
Ó velho sino, ó bronze abençoado,
Na alegria e na mágoa companheiro!
Tu me recordas o sorrir primeiro
De menino Jesus imaculado.
E enquanto escuto a tua voz dolente,
Meu ser que geme dolorosamente
Da desventura, aos gélidos açoites ...
Bebe em teus sons tanta alegria, tanta!
Sino que lembras uma noite santa,
Noite bendita mais que as outras noites! |
MATER
A meus irmãos
Ó santa, ó minha mãe, meu sol primeiro!
Luiz Murat
Minha mãe! meu amor! Por que voaste, rindo,
Para o país azul e santo da quimera?
Minha mãe! minha mãe! Se o céu é sempre
lindo,
Aqui também há sol, também há primavera...
Depois que te partiste e os teus pobres filhinhos,
Pequeninos e sós, deixaste na orfandade,
Ficamos a chorar - implumes passarinhos! -
Que os pássaros também soluçam de saudade.
Pobres aves sem ninho, andamos a procura
Do ninho de teu seio imaculado e amigo,
Criancinhas sem berço, em busca de um abrigo
No berço de tu’alma alabastrina e pura.
Não nos deixe sofrer, outrora, quando aflita
Tu nos via chorar - os risos de tu’alma! -
Soluçavas também e a tua mão bendita,
Nos enxugando o pranto, o transformava em calma.
Teu seio, ó minha mãe, era a corrente mansa,
Sempre serena e doce em seu gemer eterno,
Onde boiava, a rir, noss’alma de criança
No mimoso batel do coração materno.
Como era bom dormir na curva de teu braço,
Sonhando adormecer ouvindo-te cantar...
Como era bom dormir, ó mãe , em teu regaço,
Dourando-nos o sono a luz de teu olhar!
Angicos - 1896 |