Auta de Souza

1 - Rezando
2 - Ao Clarão da Lua

REZANDO
         A Laura Ramos
 

Róseo menino
Feito de luz,
Lírio divino,
Santo Jesus!
 

Meu cravo olente,
Cor de marfim,
Pobre inocente,
Branco jasmim!
 

Entre as palhinhas,
Pequeno amor,
Das criancinhas
Tu és a flor.
 

Cabelo louro,
Olhos azuis...
És meu tesouro,
Manso Jesus!
 

Estrela pura,
Santo farol,
Flor de candura,
Raio de sol...
 

Dá-me a esperança
N’um teu olhar:
Loura criança,
Me ensina a amar.

Sonho formoso
Cheio de luz,
Jesus piedoso,
Meu bom Jesus...
 

Como eu te adoro,
Pequeno assim!
Jesus, eu choro,
Tem dó de mim.
 

No doce encanto
De um riso teu,
Jesus tão santo,
Leva-me ao Céu!
 

Em ti espero,
Mostra-me a luz...
Leva-me, eu quero
Ver-te Jesus!

Macaíba - Noite de Natal - 1896.

AO CLARÃO DA LUA

                 A meu irmão Eloy
 

          O LÍRIO

Lá nas alturas, modesta e loura,
- Do Céu imenso na face nua -
A lua branca todo o Azul doura...

          A NUVEM

Ah! se eu pudesse mudar-me em lua:

          O PERFUME

E aquela estrela, tão pequenina
Que mal a gente consegue vê-la,
Como cintila, casta e divina!

          A LUA

Ah! quem me dera ser uma estrela!

          A NUVEM

O lírio branco, cheio de orvalho,
Invoca a lua no seu martírio
E doce e triste treme no galho...

          A ESTRELA

Ah! quem me dera ser como o lírio!

          O CÉU

Perfume doce bóia nos ares...
Virá nas asas de um vaga-lume?
Será da terra? Será dos mares?

          O ORVALHO

Ah! quem me dera ser o perfume!

          O POETA

Terno instrumento suspira ao longe
Numa cadência melodiosa...
Será na cela piedoso monge?

          Uma CRIANÇA (sonhando)

Ah! quem me dera ser uma rosa!

          A NOITE

O sonho vive dentro em meu seio,
Garrulo e meigo, doce e risonho,
Cheio de luzes, de aurora cheio...

          O PERFUME

Ah! quem me dera ser como o Sonho!

          A MADRUGADA (ao longe)

Ouvem? As aves já vêm cantando,
As estrelinhas tomam seu véu...
É tempo de irmos também chegando...

          O CORAÇÃO

Ah! quem me dera subir ao Céu!

Janeiro de 1897.

Remetente: Walter Cid
 
 

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