Avelino de Sousa



Queimadas

Sobre a planície rubra que arde qual paiol, quanto o suão levanta do chão a palha seca, a fornalha litúrgica e redonda do sol esbraceja faúlhas, redemoinha, impreca. Consome-se o restolho em estalos e sonidos e a núvem de fumo sutrai-nos a lonjura; as bocas inflamadas e os olhos incendidos perdem-se secas, cegos, na héctica planura. E após o apocalipse em escala diminuta, quando tudo termina e o estrondear se cala, resta a terra queimada, negra, rasa, bruta, fundindo-se na sombra que desde o céu resvala. Na planura sem fim que o acaso coroa só uma aragem sopra, só o vento se inflama; e eis que uma cigarra seu febril canto entoa: remanescente luz ardendo sem ter chama.


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