Aymar Mendonça

A Casa

A casa era de seda sorrisos e alecrim Na casa ecoavam cantigas de roda tinir de talheres arrastar de chinelos vozes de bichos Tinha quadros de santos retratos sisudos miado de gatos moringa de barro A casa era tépida cheirava a pêssego amora goiaba manga-espada No porão escuro a casa escondia relíquias: bordados de renda passados do tempo, tempo das moças hoje grisalhas A casa era um mito Na mesa da casa um gosto de festa: arroz branco, lombo frito couve-flor, caruru o melado adoçando lembranças o leite branqueando a noite A casa era um livro de vida e de vidas: enchendo os espaços os gritos da infância o cheiro do café coado A casa era acesa: no fogão de lenha o avô aquecia os pés frios, mãos quentes de proteção A casa prendia verdades dentro do aconchego: gradeava afetos segredos desafetos medos A casa não era estática viajava conosco Que saudade da casa com portões de madeira e de ferro trancando risos mágoas escondendo o pudor da família ...................................... A casa não é mais a casa é uma casa e eu sou uma saudade da casa.


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