Bernardo de Passos


Quadras Soltas

P'ra mentira ser segura E atingir profundidade, Tem que trazer à mistura Qualquer coisa de verdade. O rato mete o focinho Sem pensar que faz asneira Depois, ou larga o toucinho, Ou fica na ratoeira. Há pessoas muito altas De nome ilustrado e sério Porque o oiro tapa as faltas Da moral e do critério. Enquanto o homem pensar Que vale mais que outro homem, São como os cães a ladrar, Não deixam comer, nem comem. Quantas sedas aí vão, Quantos brancos colarinhos, São pedacinhos de pão, Roubados aos pobrezinhos! Sem que o discurso eu pedisse, Ele falou; e eu escutei. Gostei do que ele não disse; Do que disse não gostei.


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