Branquinho da Fonseca


Castanheiros, Irmãos...

Ó castanheiros de folhas de ouro, Carregados de ouriços que são ninhos Onde as castanhas dormem como noivos! Troncos abertos, Casas abertas, Ao vosso abrigo Dormem os pobres, Pegam no sono, Passam as noites Quando cai neve! Peitos vazios, Escancarados, Sem nada dentro, Nem coração! Dais lume, calor E dais sustento para a mesa, E dais o mais que eu não sei!... Ó castanheiros de folhas de ouro, Apenas sou vosso irmão Em que a terra vos criou E criou-me a mim também; Em que vós ergueis os braços Suplicantes para os céus E eu também levanto os meus... Ah! Castanheiros, mas eu Grito e vós ficais calados! Seremos, por isto só, Irmãos? Seremos? Não sei: Vós tendes roupas de rei, Eu tenho roupas de Job; Vós só gritais quando o vento Vos abre a boca e fustiga: Então ergueis um clamor... — Não calo nunca no peito A dor do meu sofrimento E nunca chego a dize-la, Nem há ninguém que me diga. Ó castanheiros de folha de ouro, Não, Eu não sou vosso irmão!...


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