Olavo Bilac


Plutão

Negro, com os olhos em brasa, Bom, fiel e brincalhão, Era a alegria da casa O corajoso Plutão. Fortíssimo, ágil no salto, Era o terror dos caminhos, E duas vezes mais alto Do que o seu dono Carlinhos. Jamais à casa chegara Nem a sombra de um ladrão; Pois fazia medo a cara Do destemido Plutão. Dormia durante o dia, Mas, quando a noite chegava, Junto à porta se estendia, Montando guarda ficava. Porém Carlinhos, rolando Com ele às tontas no chão, Nunca saía chorando Mordido pelo Plutão . . . Plutão velava-lhe o sono, Seguia-o quando acordado: O seu pequenino dono Era todo o seu cuidado. Um dia caíu doente Carlinhos . . . Junto ao colchão Vivia constantemente Triste e abatido, o Plutão. Vieram muitos doutores, Em vão. Toda a casa aflita, Era uma casa de dores, Era uma casa maldita. Morreu Carlinhos . . . A um canto, Gania e ladrava o cão; E tinha os olhos em pranto, Como um homem, o Plutão. Depois, seguiu o menino, Seguiu-o calado e sério; Quis ter o mesmo destino: Não saíu do cemitério. Foram um dia à procura Dele. E, esticado no chão, Junto de uma sepultura, Acharam morto o Plutão.


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