Bento Prado


A Rendeira

Rendeira, boa rendeira não deixarás de tecer, que o tecido é trabalheira, que a gente, queira ou não queira, há de ter a vida inteira, como castigo e prazer... Desde que o dia amanhece, rendeira tece que tece, não pára de tecer... E o branco urdume entretece, com o alvor da sua prece roubado do amanhecer! Tem na renda o seu cuidado, tece-a para o seu noivado... Mais alva não pode ser! Mas por arte do malvado, não tinha o lavor findado, fere a sua nívea mão... E o sangue corre encarnado mancha-lhe todo o rendado... Quanta dor no coração! E a rendeira se entristece, pois na renda que ela tece, a imagem da vida tem, cujo tecido oferece manchas de sangue também... Rendeira boa rendeira, não deixarás de tecer, que o tecido é trabalheira, que a gente, queira ou não queira, há de ter a vida inteira, como castigo e prazer...


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