Bento Prado


Sou monge perdido...

Eu venho de longe, não sei donde vim... Sou monge perdido das praias sem fim... Não tenho sandálias, perdi meu bordão... Ao longo da estrada, a quanto me apego, apego-me em vão; tropeço nas pedras e caio no chão... Sou monge perdido das praias sem fim... Não tenho sandálias, perdi meu bordão... De nada me lembro do muito que vi... Sou monge perdido das praias sem fim... Caminhos malditos marcaram-me os pés, as urzes da estrada feriram-me as mãos... Os pés sempre prontos, embora a sangrar, palmilham o chão; as mãos sempre abertas, afeitas a dar, semeiam o perdão... As novas que trago, são novas do Rei... Não digo mentiras, só digo o que sei... Está tudo escrito, à guisa de lei, no cerne, na carne, no firme, no vivo do meu coração... As novas que trago, mensagem de amor, nascidas comigo, eu sei-as de cor... Sou monge perdido das praias sem fim.


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