Berilo Wanderley

NOVEMBRO
 
Novembro chega feliz e terno, como uma vendedora de 
                                                                            flores,
que, além das flores, trouxesse uma cantiga na boca.
Ouço já a cantiga
e ninguém me impede de ser feliz nesse novembro.
Ninguém. Nem mesmo outros novembros.
Vou evitar, por isso, meus caminhos retos,
minha casa serena dos meus dias retos,
meu jardim discreto que só viu amores lícitos,
minha mesa pronta com café e goiabada,
minha mulher que tomou banho e me espera prá dormir.
 

Evitarei olhar o céu, prá que Deus não me incrimine.
(Se Ele me vir, é capaz de me mandar para casa!)
Para que voltar prá casa se a casa é de todo o dia?
Para que caminhos retos, com borboletas azuis?
Para que jardim discreto, se o amor de lá é lícito?
Para que a mesa pronta, com café e goiabada?
Vou sonhar ao lado de moças leves,
que me esperam por trás das tardes cheias de sóis mortos 
                                                                    como deuses.
Minha mulher não me perdoa? Eu a perdôo...
E vou buscar novembro, que me chega como uma rapariga 
                                                                                  terna
e me oferta flores.

  
Remetente : Walter Cid

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