Constantino  Cartaxo

Muié Pequena
                  
 
 Apois bem, solta no mundo
 tem muié de todo jeito.
 Tem muié baixa, bem alta,
 magra, de corpo perfeito.
 Tem muié preta, bem branca,
 tem calma, tem impigente,
 tem muié quiném pimenta
 das malaguetas que arde.
 Tem muita muié decente.
 Tem muita muié covarde.
 
 Umas de cara esquisita,
 com rosto cheio de espinha.
 Tem tanta muié bonita,
 tão linda quando caminha...
 (Santo Deus, que formosura!...)
 quage torando a cintura,
 enchendo a vista da gente,
 passando por nossa frente,
 com seu corpo balançando,
 mexendo, se rebolando,
 quiném cobra em terra quente.
 
 Muié gorda, arredondada,
 c’a cintura de barrica.
 Muié de espinha entortada
 que.. sei lá cumo é que fica!...
 cum jeito bem diferente,
 cuns quartos bem pracolá,
 num sei cuma não se cansa.
 Tem muita  muié valente,
 mas, também, tem muié mansa
 que não custou se amansá.
 
 Um dia, meus camarada
 danaram-se a perguntar,
 me indagando bem depressa
 como era minha muié.
 Eu passei a lhes contá,
 falando bem direitinho,
 do jeitim qui pra mim é.
 
 Pra mim é muito bonita.
 É dessas feme introncada,
 dessas muié torniada,
 toda bem acabadinha.
 Um pouco loura, bacana, 
 cabelos quiném cigana,
 bem baixa, pequenininha.
 
 Quando eu falei que ela é baixa,
 (Ainda me lembro, tô vendo...)
 um gaiato disse  “puxa!
 Toda muié desse tipo,
 é braba qui só o cão!”
 Eu fui logo arrespondendo, 
 falando em cima da bucha,
 com muita satisfação: 
 
 Pode ser braba p’rus outro.
 Pra mim braba ela né não...
 pois eu,  cum esse corpão,
 eu me munto nela em osso,
 enrolado em seu pescoço...
 e nunca caí no chão!
 
                                        
Remetente: Zé Pesado

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 Página editada  por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  14  de  Maio  de  1998