Clique aqui para conhecer o maior site de Poesias da Internet !!! Responsável: 
Soares Feitosa 
Endereço  
Email
 
Novidades da semana
Página atualizada em 04.09.1999
 
Carlos Ávila
in Jornal do Brasil,
Idéias, 14 de agosto de 1999

Poeta no tumulto do mundo 

Carlos Ávila mostra porque se amadurece para ser jovem 

BISSEXTO SENTIDO
Carlos Ávila
Perspectiva, 174 páginas
R$ 18

 PEDRO MACIEL

 Para ser jovem é preciso envelhecer. Ou como diz Jean Cocteau, a juventude é algo que a gente só adquire na maturidade. Carlos Avila apresenta-se mais jovem em livro Asperos que compõem com Sinal de menos e Aqui e agora, a coletânea Bissexto sentido, da coleção Signos, dirigida por Haroldo de Campos. Ásperos traz poemas menos fragmentados e que jamais envelhecerão. Poemas que tratam do tumulto da vida, da morte e do tédio, do dizer e do "não-dizer através do não- canto", do sem-sentido das coisas, que "aponta sempre para um sentido outro". Sinal de menos e Aqui e agora, publicados na década passada, revelam um poeta alinhado aos conceitos e preconceitos dos concretistas. 

Carlos sempre seguiu a linha construtivista dos poetas lúcidos, investiu em experimentalismos plásticos e sonoros, manejou o signo verbal com esquadro e compasso. Carlos superou a herança dos poetas concretistas, que tratam a palavra como se fosse apenas um meio visual de contar as coisas. O poeta não precisa necessariamente contar uma história para revelar a manha de um novo dia ou para clarear as sombras da vida que poderia ter sido. O poeta, "um homem sem profissao/ tenta o impossível: escrever um poema/ a luz/ (fraca e fria)/ nao aquece o seu coração". 

Carlos Ávila troca a legião dos beletristes pelo bissexto sentido"; troca o plano-piloto dos concretistas por uma poética construtiva, voltada ao "exercício/ (ainda)/ de palavras/ num deserto de possíveis". Transformou-se num poeta lúdico, atento ao que se quer dizer com todas as letras e não só atento em como dizer com todas as letras. Constroe liricamente a vida, "mero acaso bio-cósmico", sugere o caos, o nada, o fim do mundo que "pode ser o fim de um mundo". Desfaz das fórmulas achadas, da tradição que vem de Oswald de Andrade, Joao Cabral e da poesia concreta e propoe uma poesia que "subentende vida/ para que sobreviva". 

O poeta envelhece com as desilusões, os subterfúgios, os sonhos e rejuvenesce para desmascarar o que foi calado e negado. Não tem noção exata do que quer expressar até que descubra as palavras que vão dar ritmo ao poema. Com Bissexto Sentido, nasce um poeta em busca do essencial e da sensação. O poeta que apenas traçava com rigor o espaço gráfico, "contra uma poesia de expressão" e a favor do "realismo total", encontra a medida, o ritmo e a melodia para expressar o sentimento das coisas e a substância da vida.

 
Pedro Maciel é poeta e jornalista

     



 Página principal do JP


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

.