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Cândido B. C. Neto

 

      
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Só a DIDÁTICA em prol do Homem legitima o conhecimento

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Carlos Augusto Viana

6.10.2002

POESIA
A consciência social em Cândido B. C. Neto

Para Cândido B. C. Neto, a poesia é, acima de tudo, um compromisso com a condição humana. Por isso mesmo, o que - a partir , evidentemente, de uma leitura apressada - poderia inscrever-se como regionalismo, deve , a rigor , ser apreendido tão-somente como pano de fundo, vez que visa, substancialmente, ao universal, principalmente concentrado na imensa legião dos que não foram convidados ao banquete industrial. Servindo-se de um humor e de uma ironia corrosivos, o que - à primeira leitura - assoma como niilismo, converte-se, em verdade, numa esperança, ainda tênue, da transformação do quadro social, pois, construtor do dia-a-dia, recusa-se a qualquer filamento de falta participação, seja na atmosfera da estética ou na da política:

Ah,
Estes revolucionários da primazia da palavra
Representantes pragmáticos
De inúmeras ações tímidas
Insensíveis aos que sempre
Marcham
Na busca de impedir
As lágrimas provocadas pelo ´Poder´

Há, em tudo isso, um compromisso do poeta com o semelhante, daí uma clara militância político-social através da poesia. Desse modo , o discurso literário é um instrumento por que a consciência individual e o dever de participação nas mudanças precípuas a uma plenitude da existência pesam-lhe sobre a visão do mundo, fazendo com que seja exatamente aquilo que o distingue dos outros animais, oriundo, evidentemente, de práticas econômicas alimentadoras de exercícios de rapinagem:

Povo em marcha, trabalhador
Nos encontramos nesta romaria
Percorrendo campos, cidades,
Na busca de melhores dias, felicidade...

Por conta dessas singularidades, inerentes aos objetivos fundamentais de sua escritura, o poeta Cândido B. C. Neto, muitas vezes, simula um diálogo, franco e aberto, com o leitor ou mesmo com uma personagem do poema. Assim, as marcas de oralidade advêm de um consciente trabalho lexical, incumbido de construir uma dicção ao mesmo tempo espontânea e lancinante:

Calados, continuam
Com seus corpos encharcados
As mãos plantadas
Esperando as promessas
´que não atam, nem desatam´
o problema é agrário,
seu moço.

Resulta, de tais recursos estilísticos, um ritmo ágil, cuja matéria implica o resgate da dinâmica oral. Às vezes, a pontuação rompe a couraça da norma, impondo fragmentações sintáticas, estruturações nominais ou quebra da lógica da escrita; em outras, depara-se o emprego de solecismos, em especial os de colocação:

Me maltrata esta vida
Na qual um Deus
É causa
Finita causa
De tudo e nada

Atrela-se a tudo isso a dicção inflamada, em voz alta, como se estivesse o poeta em uma praça urbana ou num acampamento rural; e, por isso mesmo, as palavras procurassem suprir-lhe a ausência do corpo, - representado, então, por interjeições, exclamações ou interrogações demasiadamente sugestivas:

Quem não conhece o progresso?
Me digam...
Quem não conhece o progresso?
Somente uma minoria...
Olhem o azul!

A escritura de Cândido B. C. Neto orienta-se no sentido de extrair das manifestações mais triviais do cotidiano o sumo de que irá revestir-se. Visa, sobretudo, à captação de um mundo objetivo e concreto, despido de quaisquer adjetivos que, de uma maneira ou de outra, possam vir a aureolá-lo. Mas não se trata, entanto, de um observador neutro; antes, impõe-se como um eu intruso, participativo, indignado. Integram-se sujeito e objeto, comportando-se como um todo, indivisível. Assim, a sua poesia jamais palmilha as veredas do simbólico, no máximo gira em torno de sua atmosfera; e, se o faz, não é senão um artifício por que, de um modo mais incisivo, lhe seja possível esvaziar a crosta de subjetividades sublimatórias:

Nas lágrimas
Mescladas de pó e povo
Pão e terra
As esperanças de um povo humilde
Resistirão
Crianças voarão com seus sonhos
Antes que o amanhecer acorde

Há, portanto, uma consciência do poder restaurador e também ordenador da palavra: pão, pão; terra, terra. É na direção do equilíbrio dessa descoberta que avança o poeta, inscrevendo a letra de sua singularidade. A poesia, não mais inspiração ou transe, é inscrição direcionada; nada é intuitivo; e sim, medido, trabalhado. Alia força criadora e transmissão ideológica; dissolvem-se as fronteiras entre o prosaico, reduzindo os substratos melódicos:

As luzes se encontram
Os carros param
As bicicletas param
As pessoas correm
Por entre trilhos,
Uma retorna apavorada:
- O trem pegou um homem.

Cada um dos poemas desse livro estabelece entre si uma relação de interdependência tamanha que, uma vez compostos, parecem integrar um discurso único. Se a escritura, perscruta, de um lado, as indagações metafísicas, e, de outro, as desigualdades resultantes de um sistema social e economicamente cruel, converge, também, (o que não deixa de ser surpreendente) para um campo de expressão maior e mais intrigante: o do silêncio:

Tua estátua lendária
Simbólica essência
No ´Perfume dos ventos´
Que me embriagará
Quando com tua voz
Escreverei o verso
Que ainda não escrevemos.

Cândido B. C. Neto reúne, nesse trabalho, a síntese da natureza de seu universo criador: tratamento direto do tema e busca da expressão essencial. Se uma imagem é a apresentação de um complexo intelectual e emocional num instante de tempo, se a linha de um verso é sempre circular, sabe muito bem o artista que a poesia é fluência daquilo que não jorra para todos, do que o homem comum talvez até pressinta, mas que, quase sempre, nunca vê ou disso não cuida. Talvez, por isso, esteja o poeta sempre atento a emprestar aos outros a sua atitude de solidariedade, seus olhos e mãos:

Eu
Neste sertão
Porque amo a tudo
E nos meus olhos
Permito mergulhar
O sonho de todos
Como se fosse um lago
E nos meus olhos
Feitos uma vasta vegetação
Permito, nesta infinita visão,
Que todos os perdidos
Encontrem seus caminhos.

A leitura da poética de Cândido B. C. Neto levará o público a um exercício artístico advindo de uma lucidez: o ato de criação submetido a um controle rigoroso de seus elementos. Elimina-se, com isso, o juízo romântico do inspirado, daquele que se submete ao capricho das musas. O que aqui se apura é o suor de um ofício. O poeta opera a linguagem - e dela procura extrair o máximo de sua expressividade imanente: encantamento e inquietude.

 

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