há poesia dentro de mim
na carótida no supercílio esquerdo na virilha no
sopro do coração
no abismo da memória no pentelho parado na unha
lenta
na minha língua portuguesa
no tornozelo na geografia da veia na diarréia diária
há poesia o bastante
na ejaculação precoce na falta de ar
na quinta sexta vértebra total há
no hálito nos sete litros de sangue na água
inteira do corpo
na saliva nos neurônios na gordura em excesso
no abcesso que já se foi havia um tanto de poesia
no riso rei na raiz na flor dos olhos luz e vidro espelho do
outro
na medula na hipófise no inferno de minha inveja
há poesia que só vendo
veja bem:
há simplesmente poesia em tudo de mim
no céu da boca no sonho que vislumbro e assombra
sobre o nu da página
na figa que o dedo faz no fígado que se desfaz no canal
do esôfago
dentro
no centro do estômago
na frente e atrás há poesia demais
entre cada um dos trinta e dois dentes
no fundo do juízo no eme da palma da mão no chão
da calma
na gengiva rosa no sangue grave da aorta na alma
torta
na fome de eterno há poesia dentro de mim
nas entranhas no estranho barulho dos líquidos internos
na boca - portal do desejo- na vesícula biliar
no intestino grosso
na delicada íris nos testículos no espírito
de porco do corpo
no fulano de tal em que às vezes me transformo
no tutano do ilíaco há poesia também
há poesia na música que assovio de dentro de mim
e que alguém ouve além
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há poesia fora de mim
OUT
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