Pe. Osvaldo Chaves

Essa Grande Mulher

Não quero Dos hotéis-constelação, Que medem luxo em número de estrelas, Destes hotéis não quero os gênios culinários Sequer nomear: Eu canto a cozinheira! Eu canto a cozinheira, que não mede Seu valor em estrelas, mas em sóis: Ela é de todo dia, e são trezentos, Três vozes cem e mais sessenta e cinco Os sóis que exaltam seu valor por ano. Ela é do ano todo e de todos os anos: No princípio do dia, Está ainda escondido o sol pra o sou trabalho, E bem antes do fim de sua dura jornada, o sol já se escondeu... É Sara preparando os pães de casa E dos divinos hóspedes, É o magico poder das mãos abençoadas De Rebeca, fazenda, de cabritos, O guisado de caça ao gosto de Isaac; Euricléia em Ítaca, cozinha Pra Ulisses e Telêmaco; Maria e Joana e Antônia e outras muitas Marias, Pra mim e pra você. Erija quem quiser seus monumentos Ao vaqueiro, ao romeiro, ou ao soldado Desconhecido. Erija quem quiser suas estátuas A Sampaios, Tibúrcios, a Caxias, Napoleões e outros fabricantes De viúvas e de órfãos e famintos: Eu quero um monumento à verdadeira Dona de casa Humilde e boa Que nos dá de comer. Eu faço do meu poema um monumento A essa grande mulher Que lava e enxuga o meu talher E me dá de comer: Eu canto a cozinheira!


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