Todas de
uma vez. O novo livro de Thiago de Mello é uma suma não apenas
de sua obra mas de sua vida. Os poemas da maturidade conservam a carga
emotiva e humana de suas obras anteriores. Contudo, ele não se limita
a um núcleo, quando, por exemplo, marcou o nosso tempo com poemas
que fizeram a cabeça e o coração de duas gerações.
Para citar um deles: seu antológico Estatutos do Homem, hoje
traduzido em várias línguas, momento da resistência
do povo brasileiro - e de qualquer outro povo - contra a opressão.
Em De uma
vez por todas, Thiago de Mello cumpre com dignidade e beleza a sua
missão. Isolou-se no chão onde nasceu, um chão encharcado
de rios e florestas, onde pode captar a luxúria de um peixe-fêmea
diante de um peixe-macho, ou - como acontece num dos melhores poemas de
nossa língua - descreve o ato de amor entre duas aranhas.
Penetrando
no átrio sombrio dos 70 anos, ele revisita o passado, tem as retinas
fatigadas de tudo o que viu nas sete portas do mundo. Apesar disso, como
ser humano que herdou o caudal dos grandes rios que regaram seu berço
- ele continua o poeta da manhã e do canto.
De uma vez
por todas, Thiago proclama seu amor à natureza e à liberdade.
A nuvem se esgarça ao sabor do vento, perde sua claridade, transforma-se
em tempestade. Já a palavra nuvem permanece intacta no texto:
é eterna. Poucas vezes, e em grau tão verdadeiro, a literatura
encontrou definição.
Destaque especial
para a sucessão de seus amigos, daqueles que admirou e foi por eles
admirado. O soneto de Pablo Neruda dedicado a Thiago é definitivo.
Vago mago é praticamente intraduzível. E mesmo traduzido,
necessita de um conhecimento prévio de Neruda e do próprio
Thiago.
Misturando
prosa e poesia, crônica e até anúncio imobiliário,
o amazonense de Barreirinha, o cidadão do mundo, o personagem de
nossa época, o poeta de A Canção do Amor Armado
penetra na memória, obtendo a síntese do urbano e do telúrico,
do lírico e do social. Comprometido com a sua terra e com a sua
gente, de uma vez por todas Thiago de Mello asume a expressão de
um poeta verdadeiramente universal. |