Cid Sabóia de Carvalho

Plenilúnio

Plenilúnio, oh plena lua de meu avô e de minha avó. Leio versos dele nas velhas coletâneas enquanto os recortes amarelecidos fazem queixas e promessas, queixas, promessas e esperanças. Tudo de ti me fala, eis que confessa nas canções plenas de luas cheias, cheias de todas as luas. Ao pé do soneto publicado o anúncio do livro que se perdeu, cujas páginas quase não restaram. E agora, perto de um século depois, tomo o plenilúnio ao meu cuidado com um livro sem graça, mas cheio de emoção como seria o seu. Meu avô Eduardo declamava com voz cheia os versos que fez como padeiro para Mimosa, minha avó. Tudo restou acontecido, inclusive as mortes no caminho. a dele, a dela e a partida dos filhos todos que tiveram. O velho álbum guarda recortes amarelos e é a própria lua cheia que me ilumina com seculares emoções, jovens emoções que se renovam a cada lua. Os dedos de minha Mãe pregaram esses papéis que jazem pregados em mim. Oh plenilúnio, oh lua plena, plena lua lua de cem anos, lua cheia de uma saudade sem fim. Plenilúnio da saudade, oh plenilúnio de mim.


* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *