Cid Sabóia de Carvalho

Êxtase

Esperei por ti neste último poema: tu chegas em fuga, ai, sem ruído e voz (não temos voz) e através da água dos nossos olhos olhamos um os olhos do outro (quanto vemos, amor!) e, oh Cristo, basta! Agora desço por teu rosto, pois sigo na lágrima tua e quando encostas o ouvido no meu peito, ouves o tropel nervoso do meu cavalo louco nos caminhos do fim. Por aqui ninguém vai, amor: eu vou sem voz e é meu olhar que ecoa, não minha voz. (E eu quero voz?) Ela ficou em ti, no teu silêncio e na tua lágrima vou morrer na angústia dos trovões calados e com todas as neuroses da alma dos relâmpagos. Teu pranto é mudo quando morro e nele viajo com minha morte. Desci por teu rosto e terminei bem entre teus seios: se na tua lágrima segui é porque meu último desejo foi estar aqui. Minhas mãos não acenam (morrem na posse) ocupadas pela última colheita.


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