Celso Mesquita 

Babel  I
                  
              
As canções celebram o eco de sua própria música.
Não existem ouvidos para escutá-las.
Muitos cantam no Mercado.
Todos falam e sua palavra é vazia
como a voz do Poeta,
que rebusca na memória
uma palavra salvadora: Canaã.
Mas sua voz e sua língua são sufocadas
pela certeza ilusória dos que apregoam
a mercadoria.
Há cheiro de sangue e suor nos corpos
que resvalam na rua.
O Poeta grita mais alto e em vão: Canaã!
É o silêncio quem responde.
As palavras têm outro uso:
vendem-se, trocam-se, gastam-se,
e são jogadas fora.
No Mercado das Palavras
O Poeta insiste em obter resposta: Canaã!
Os olhos transeuntes vêem
um desenho de letras ajuntadas:
cinco letras, cinco formas, nada mais.
 

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Página  atualizada  por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  06  de janeiro de 1998