O desespero aumenta,
mas também sua vontade de falar torna-se mais forte,
e ouvindo sua própria voz
espanta o medo da língua presa:
quem são os donos do Mercado das Palavras?
Ninguém responde.
Ninguém sabe.
Recrudesce o movimento na Praça.
Quem são os donos do Mercado das Palavras?
Ninguém responde.
Ninguém sabe.
A vida torna-se
cada vez mais silenciosa.
Mas o silêncio já não sufoca
a dúvida do Poeta
que escreve nos muros da Rua
e de sua imaginação:
quem são os donos das palavras?
E na praça cotidiana
o povo não escuta
o povo não responde
e cada vez mais e mais
o Poeta interroga,
e sua voz, liberta, é-lhe estranha.
Fantasma de som que se repete
e cristaliza no meio da Praça:
quem é o dono da Palavra?
E refletida nos muros da Rua,
nos ecos, nos olhos transeuntes,
a resposta: sou eu. |