Celso Mesquita 

Quase um Réquiem
                  
              
Respirar: conter o inspirado ar
nos pulmões onde se espraia o sangue
que me distribui num eterno bater de rocas,
azaléias a brilharem sua cor, de onde
me vem uma terna e tonta primavera.
Ah! Respirar Recife, loca de sangüíneos
azuis à beira-mar, respingar
de água salgada, cheiro de peixe,
diuturna maresia enquanto a cabeça
flutua num ser muito lento.

E quando as palavras eram
o respirar do maior silêncio,
nós nos contínhamos
à beira-mar, apenas os olhos
tinham vida diante da luz
e era quando meus braços
ficavam fortes, azuladas veias
túrgidas de um mel grosso
que advinha, que desenhava o porto!
(Sempre o receio de respirar
como se o ar não fosse este, 
mas um veneno  estrangeiro.)

 

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Página  atualizada  por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  06  de janeiro de 1998