António Manuel Couto Viana

Bocage

Naquele ano fatal da Grande Perdição Que deflagrou, no mundo, un nouvel âge, Chegou aqui surgido de Cantão, Pra onde o arrebatara o furor de um tufão, poeta Bocage. Achou a terra decadente e estranha E a gente ora mendiga ora devassa. E enquanto, num soneto, a satiriza, entoa Meigas estrofes à "magnânima Saldanha" (Marília, ao celebrar-lhe a formusura e a graça) E um hino de lisonjas à "preclara Hulhoa" Quase um ano inteiro (quase uma vida inteira!) Por Macau bocejou e vageou à toa. Mas, por mercê de Lázaro Ferreira, Um dia, enfim, pôde enrolar a esteira E voltar a Lisboa. A cidade, porém, não lhe esqueceu o vulto (Esqueceu o soneto que é justo, sem ser mau): Hoje, uma rua, rende-lhe culto. -É quanto o poeta tem em Macau.


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