Carlos Queirós


Teatro da Boneca

A menina tinha os cabelos louros. A boneca também. A menina tinha os olhos castanhos. Os da boneca eram azuis. A menina gostava loucamente da boneca A boneca ninguém sabe se gostava da menina. Mas a menina morreu. A boneca ficou. Agora já ninguém sabe se a menina gosta da boneca. E a boneca não cabe em nenhuma gaveta. A boneca abre as tampas de todas as malas. A boneca é maior que a presença de todas as coisas. A boneca está em toda a parte. A boneca enche a casa toda. É preciso esconder a boneca. É preciso que a boneca desapareça para sempre. É preciso matar, é preciso enterrar a boneca. A boneca. A boneca.


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