Carlos Queirós


Apelo à Poesia

Por que vieste? — Não chamei por ti! Era tão natural o que eu pensava, (Nem triste, nem alegre, de maneira Que pudesse sentir a tua falta... ) E tu vieste, Como se fosses necessária! Poesia! nunca mais venhas assim: Pé ante pé, covardemente oculta Nas idéias mais simples, Nos mais ingênuos sentimentos: Um sorriso, um olhar, uma lembrança... — Não sejas como o Amor! É verdade que vens, como se fosses Uma parte de mim que vive longe, Presa ao meu coração Por um elo invisível; Mas não regresses mais sem que eu te chame, — Não sejas como a Saudade! De súbito, arrebatas-me, através De zonas espectrais, de ignotos climas; E, quando desço à vida, já não sei Onde era o meu lugar... Poesia! nunca mais venhas assim, — Não sejas como a Loucura! Embora a dor me fira, de tal modo Que só as tuas mãos saibam curar-me, Ou ninguém, se não tu, possa entender O meu contentamento, Não venhas nunca mais sem que eu te chame, — Não sejas como a Morte!


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