Carolina Vigna Prado


Carta a um amigo

Escrevo por impulso. Talvez isso não faça qualquer sentido, mas decidi correr o risco. "... Carrega nos seus braços a criança chorosa... Mas nos seus braços a criança estava morta..." O despertar de um pesadelo é muitas vezes mais cruel. É belo o amanhecer, porque é o sorriso daqueles que me esperaram. Coloquei o roteiro em uma gaveta, esperando madurar, como o desenho de uma música qualquer. Tenho fôlego. Johann Wolfgang von Goethe. A febre foi contida. A realidade me acalenta. Ich liebe dich. Gostaria de acreditar em histórias com começo, meio e fim. São fantasias que se realizam, outras que nascem, e a história continua, como um peão de criança em festa junina. Gostaria de acreditar em destino, mas não consigo. São idas e vindas que traçamos com absoluta consciência e vontade. Gostaria de acreditar em paixão, mas não consigo. O tempo vagarosamente provou o contrário. Apenas cúmplices de uma vida. "Gracias a la vida, perfectamente distingo lo negro del blanco". Gostaria de acreditar na razão, mas não consigo. Gostaria de acreditar em sonhos. Felizmente, ainda consigo. O racional e lógico não me dizem mais nada. No sonho e no desejo encontro o que procuro. Semi-platônicos, ainda não realizados. Um desejo quase impune por ser autista. O desejo de um amor que emule a vida, que anule a morte. O cansaço me vence. Boa noite.


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