| O sangue que ilumina o pensamento, Em forma eterna a vida reproduz;
 Assim, a imagem do meu pensamento
 Se não em sangue, há de gravar-se em luz.
 Então, vereis ao vivo refletida,
Entre uma auréola de esplendor cristão,
 A sombra interior da minha vida
 A projetar-se do meu coração...
 Sob esse aspecto místico e profundo,
Terei a transparência do cristal,
 Ampliando a visão múltipla do mundo
 Para uma vida sobrenatural.
 E o que tenho de humano e de divino
Ante olhares profanos hei de expor,
 Nas ascensões e quedas do destino,
 Que foram meu Calvário e meu Tabor.
 Mas, cauteloso, o espírito tristonho,
Ocultando seu trágico avatar
 Sob a névoa translúcida do sonho,
 Há de ser como a espuma sobre o mar.
 E a luz, que vibra em iris no meu canto,
Revelará, talvez, sem eu querer,
 Aos vossos olhos lúcidos de espanto
 A beleza intangível do meu ser.
 |