Da Costa e Silva

Verônica
 
 
O sangue que ilumina o pensamento,
Em forma eterna a vida reproduz;
Assim, a imagem do meu pensamento
Se não em sangue, há de gravar-se em luz.

Então, vereis ao vivo refletida,
Entre uma auréola de esplendor cristão, 
A sombra interior da minha vida
A projetar-se do meu coração...

Sob esse aspecto místico e profundo,
Terei a transparência do cristal,
Ampliando a visão múltipla do mundo
Para uma vida sobrenatural.

E o que tenho de humano e de divino
Ante olhares profanos hei de expor,
Nas ascensões e quedas do destino,
Que foram meu Calvário e meu Tabor.

Mas, cauteloso, o espírito tristonho,
Ocultando seu trágico avatar
Sob a névoa translúcida do sonho,
Há de ser como a espuma sobre o mar.

E a luz, que vibra em iris no meu canto,
Revelará, talvez, sem eu querer,
Aos vossos olhos lúcidos de espanto
A beleza intangível do meu ser.

 
 

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Página editada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  07  de  Agosto  de  1998