Não desejes, nem sonhes, alma incauta,
Que a ilusão tem o encanto da sereia,
Que em noites aromais de lua cheia
Seduz e perde, em alto-mar, o nauta.
Feliz daquele que os seus atos pauta
Dentro dos dons da vida que o rodeia,
E acha o leito macio e a mesa lauta
Na indiferença da fortuna alheia.
Feliz de quem, da vida para a morte,
Embora pobre, de pobreza triste,
Se contenta, afinal, com a própria sorte.
Se há ventura no mundo, essa consiste,
Talvez, em suportar, de ânimo forte,
A renúncia de um bem que não existe. |