Da Costa e Silva

Os Olhos Vêem Sem Ver...
 
 
Quando te quero ver, cerro as pálpebras e,
Concentrando a visão, fico a pensar em ti.

Aos olhos vem-me assim, num sonho ingênuo e doce,
A tua imagem fiel, como se viva fosse.

E eu sinto bem que és tu, que emerges do meu ser,
Numa névoa fugaz, para eu te poder ver.

Névoa que se faz luz, sombra que se ilumina,
Vens espiritualmente assomar à retina...

Surges no coração, onde hoje vives, pois
Sobes ao pensamento e ao olhar vens depois.

Tens em tudo a expressão que no mundo tiveste,
Tenha embora a beleza um encanto celeste.

Mas, em forma incorpórea, és tu mesma, porque
Como te vi em vida a alma em sonho te vê.

E é tão viva a impressão que ninguém se persuade 
De que a vida se extinga, existindo a saudade...

Não pode ser engano a visão interior
Que os olhos vêem sem ver, por milagre do amor.

Quem sabe há no meu ser um espelho encantado,
Onde indelével se reflete o meu passado!

Acaso há dentro em mim uma fonte de luz,
Que a tua vida em minha vida reproduz!

É por isso, talvez, que em vago encantamento, 
Eu me deixo levar pelo meu pensamento.

E, se te quero ver, fecho os olhos e, então,
Em silêncio me entrego a essa amada ilusão...

 
 

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Página editada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  10  de  Agosto  de  1998