Estava a sonhar contigo,
Mas acordo de repente...
Ouço bater ao postigo
Lentamente...longamente...
Penso que és tu, morta ausente,
Que voltas ao teu abrigo.
Corro, impaciente, à janela.
Olho a noite. Ermo profundo...
O vento frio e iracundo
As árvores arrepela...
E eu pergunto às sombras: — E Ela?
Não voltará mais ao mundo?
O chão de folhas se junca
Ao vento que as solta e leva...
E ouço, em silêncio, na treva:
— Quem morre não vem mais nunca.
O CORVO de Poe se ceva,
Cravando-me a garra adunca.
— Ai! que saudade! — Maldigo
A vida, triste e descrente:
— Se eu dormisse eternamente...
E volto a sonhar contigo.
Bate o vento no postigo...
Cai a chuva lentamente... |