Da Costa e Silva


A moenda

 
 
Remetido por
Apolônio Ibiapina de Moura
<moura@secrel.com.br>


Na remansosa paz da rústica fazenda,
à luz quente do sol e à fria luz do luar,
vive, como a expiar uma culpa tremenda, 
o engenho de madeira a gemer e a chorar.

Ringe e range, rouquenha, a rígida moenda;
e, ringindo e rangendo, a cana a triturar, 
parece que tem alma, advinha e desvenda
a ruína, a dor, o mal que vai, talvez, causar...

Movida pelos bois tardos e sonolentos
geme, como a exprimir, em doridos lamentos,
que as desgraças por vir, sabe-as todas de cor.

Ai, dos teus tristes ais, ai, moenda arrependida
- álcool para esquecer os tormentos da vida
- e cavar, sabe Deus, um tormento maior.
 


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Página editada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  10  de  Agosto  de  1998